domingo, 13 de novembro de 2011

ENCYCLIA PHOENICEA



---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Carlos Keller <carlosgkeller@terra.com.br>
Data: 14 de janeiro de 2010 04:38
Assunto: [Mundo Orquidófilo] ENCYCLIA PHOENICEA
Para: MUNDO ORQUIDÓFILO <orquideas@yahoogrupos.com.br>


Encyclia phoenicea

Os Fenícios (Phoenicius) dominavam na antiguidade todo o oeste do Mediterrâneo, chegando até a Sicília. A sede do seu império se situava onde hoje é o Líbano e parte da Síria e lá, na cidade de Tyro, a principal do reino, era comercializada a túnica púrpura, a vestimenta dos reis e nobres da época. A cor, intermediária entre o roxo e o vinho, era única e só existia nessas túnicas ou mantos, que consistiam num produto caríssimo. A tinta que os tingia, um líquido branco leitoso que em contato com a luz ficava roxo púrpura, era extraído da glândula de um caramujo encontrado na costa daquela região. Esse caramujo (Murex brandaris), costuma ser pequeno e a quantidade obtida por animal era ínfima. Estima-se serem necessários cerca de 12 mil exemplares de caramujo para se obter apenas 1.5 gramas de tinta concentrada, o que levou a espécie quase à extinção. Essa cor toda particular era o sonho de consumo das elites e significava classe e nobreza. Era símbolo de status. Só com a descoberta do Brasil em 1500 e a exploração do Pau Brasil é que a cor púrpura passou a ser acessível à classe média. A cor é de difícil descrição e passou por causa disso a ser chamada de cor dos fenícios ou resumidamente, phoenicius. Os naturalistas muitas vezes se deparavam com espécimes vindos da natureza adornados com essa linda cor e usavam a palavra latina phoeniceus ou punicea para descrevê-la, como foi o caso desta Encyclia aqui fotografada. Classificada por Lindleyi como Epidendrum phoeniceum em 1841, foi transferida pelo botânico Newman em 1914 para o gênero em que agora está. Pallas, um grande naturalista e ornitólogo do século 19, usou a mesma denominação para classificar o belíssimo Anambé Pompadour, Xipholena punicea, um cotingídeo e uma das mais belas aves do nosso país, o qual pode ser visto na foto abaixo. Esse exemplar pertenceu à minha coleção por vinte e seis anos.

A Encyclia phoenicea é nativa de Cuba, Bahamas, Ilhas Caiman, Gran Truks e Caicos, no Caribe. Ela vegeta como epífita e ocasionalmente como rupícola, geralmente ao nível do mar em ambientes ensolarados e secos. O orvalho noturno é a sua maior fonte de umidade. Acima dos 300 metros ela também pode ser encontrada, mas em menor quantidade. Os exemplares que crescem ao nível do mar florescem entre abril e dezembro, já as que vivem acima dos 300 metros, em locais mais frios, florescem entre agosto e dezembro. Aqui no Brasil, abaixo da linha do Equador, essa época de floração com certeza deve se modificar e esta minha está começando a florescer agora, em dezembro/janeiro. Os pseudobulbos pequenos são redondos e bifoliados e as folhas possuem cerca de 25 a 30 cm de comprimento. Nas primeiras horas da manhã as flores emanam um delicioso perfume forte e doce que lembra a baunilha ou o chocolate e por conta disso, essa espécie é chamada em algumas regiões de "Orquídea de Chocolate". Em Cuba ela é chamada de "Flor de San Pedro". Existe uma grande variação na cor nas flores e acredita-se que isso se deva às condições ambientais. Segue abaixo uma gravura que mostra a variação cromática dessa espécie:

O meu exemplar está plantado em uma casca de peroba, como pode ser visto na foto ao lado do pássaro, e essa casca está inserida levemente inclinada dentro de um cachepot de madeira. Como substrato eu uso uma mistura de brita nº 1, aquela mais grossa usada em construção e pedaços de quenga de côco, na razão de 50-50%. A planta poderia perfeitamente viver só na placa de madeira, mas eu uso o cachepot, tanto para ter mais facilidade em pendurá-la, quanto para reter um pouco mais de umidade, adubo e iscas contra lesmas. O substrato é, no entanto, de drenagem muito rápida. No orquidário ela fica debaixo apenas do sombrite, sem plástico em cima e isso é possível dada a drenagem rápida do substrato, o qual por não reter em demasia a água das chuvas, não permite o aparecimento de fungos. O local é bem iluminado e ela fica junto com as vandas e as cattleyas walkeriana e nobilior, pois tem as mesmas necessidades destas. Recebi uma muda dessa lindíssima Encyclia da minha amiga e companheira de lista (em língua espanhola), Lizette Morejon de Cuba. Ela também me enviou a prancha com os desenhos das flores e um texto sobre as características do habitat no seu país. Lizette, muito obrigado! Carlos.

 

Carlos Keller
Rio de Janeiro - RJ
carlosgkeller@terra.com.br



2 comentários: