domingo, 13 de novembro de 2011

LAELIA LOBATA SEMI-ALBA

Laelia lobata semi-alba 'Maria Cristina'

Esta é uma divisão do único exemplar da variedade semi-alba de Laelia lobata que se conhece. Tanto mistério e tanta desinformação permearam a história dessa planta, que hoje ela é considerada uma lenda. Nada, no entanto, como boas fotos para se acabar com o mistério e transformar a lenda na mais pura realidade. O descobridor da Laelia lobata semi-alba 'Maria Cristina' foi o botânico, pesquisador e orquidófilo Francisco Miranda, morador do Rio de Janeiro, no bairro do Alto da Boa Vista, onde na época mantinha um orquidário comercial. Tempestades sempre deslocavam do alto da Pedra da Gávea touceiras de Laelia lobata dentre outras plantas e era o costume dos orquidófilos irem percorrer a base da pedra após fortes temporais em busca desses remanescentes. Essa planta foi encontrada por Francisco Miranda em uma visita que fez, acredito eu no início dos anos 80, à base da pedra, abaixo de um paredão conhecido por ele pela grande quantidade de plantas que dali rolavam com as ventanias.  Acompanhado de um amigo de nome Carlos Eduardo, ele coletou alguns exemplares soltos caídos no chão e entre eles veio esta linda semi-alba. Não sei dizer se a planta estava ou não florida naquele momento, mas se estivesse, a variedade poderia ter sido detectada mesmo com as flores danificadas. Certamente a planta floriu posteriormente no seu orquidário, confirmando a variedade, quando então recebeu o nome clonal de 'Maria Cristina' em homenagem à sua esposa. Existe outra versão sobre as circunstâncias da descoberta dessa semi-alba, onde dizem que ela foi avistada pelo Francisco Miranda e amigos toda florida, no alto de um penhasco de pedra nua, vegetando em uma pequena reentrância na pedra há cerca de 20 metros de altura. Para coletarem a touceira, um dos membros do grupo (Sr. Stein e não o irmão alpinista do Francisco, Carlos Alberto), desceu por uma corda desde uma árvore acima da planta em questão, com o objetivo de tentar subir com ela nos braços. Infelizmente durante o processo a touceira se desprendeu da pedra e caiu lá de cima com as folhas voltadas para baixo, quebrando quase todas. Na verdade essa estória aconteceu mesmo, mas não foi com a Laelia lobata semi-alba, mas sim com uma Laelia lobata cerúlea de excepcional coloração, a qual sobreviveu bem ao desastre. Como vocês podem ver, as estórias estão certas, só que com plantas diferentes. Quero lembrar aqui que esses fatos ocorreram há mais de 30 anos, quando não se tinha a consciência ecológica que se tem hoje, nem se tinha a grande oferta de orquídeas espécie vindas de cruzamentos e produzidas em laboratório como existe hoje. Com as plantas de alta qualidade em oferta atualmente no mercado, coletar orquídeas na natureza não tem mais sentido, mas naquela época isso era considerado uma prática normal. Hoje o Francisco Miranda vive nos Estados Unidos e acredito que a planta original com ele lá esteja. Uma vez que essa Laelia lobata nas mãos do Francisco se apresentou ser de crescimento muito lento (a minha também cresce apenas um pseudobulbo por ano), o Francisco optou por não dividir a touceira por medo de estressá-la demais no processo. Fez, no entanto, um self dela, mas constatou que a fertilidade das sementes foi muito baixa, gerando apenas poucos seedlings, sendo que a maioria deles morreu durante a passagem do frasco para o coletivo. Aparentemente restaram apenas onze seedlings já maiores, dos quais, cinco foram trocados com outros orquidófilos (talvez até nos EUA) e seis permaneceram no orquidário do Francisco Miranda na Flórida. A esposa do Francisco Miranda, Maria Cristina, informou em um e-mail enviado à um amigo nosso em comum, Paulo Márcio, em 13 de janeiro de 2006, que na época, dos seis exemplares dois já haviam florido, apresentando coloração idêntica à mãe. No Brasil, o primeiro orquidófilo a possuir uma divisão da planta original foi o Aldomar Sander, de Osório, RS. Ele adquiriu do Francisco Miranda uma rabeira dela na ocasião da exposição mundial de orquídeas que houve no Rio de Janeiro em 1996, mas não tenho certeza se essa Laelia lobata ali foi exposta. Ao que parece, a troca dessa rabeira foi feita por um lote de plantas, a maioria purpuratas e foi pouco divulgada, chegando-se a pensar que ao invés da rabeira da original o que se havia trocado foi um self dela, o que não é verdade. Os selfs vieram depois. Nas mãos verdes do Sander, a planta cresceu bem e entouceirou rapidamente, o que propiciou posteriormente que algumas divisões dela pudessem ser vendidas. Uma das divisões da planta do Sander é esta que vocês aqui vêem florida. Eu a adquiri do Emerson Hulmann, de Salto, SP, o qual a comprou do Sander. Outro orquidófilo possuidor de duas divisões da planta original é o nosso companheiro de lista, grande produtor, Carlos Gomes. Também com ele, é claro, as plantas prosperam bem e rápido e selfs dela já foram ali feitos com bons resultados, embora a fertilidade também tenha se apresentado baixa. Acredito que os exemplares semi-albos provenientes da autofecundação da planta mãe existentes no Brasil sejam provenientes ou do orquidário Carlos Gomes, ou do Sander, ou do Emerson Hulmann. Eu cheguei a fazer uma autofecundação dela em 2007 e quando tive a seguir uma boa floração em 2008 (premiada na exposição de Maricá, RJ), não me preocupei em repetir a autofecundação, pois as sementes já estavam no laboratório germinando com sucesso. Antes tivesse feito, pois posteriormente os seedlings foram destruídos junto com mais alguns meus e de outros orquidófilos em um triste acidente que aconteceu nesse laboratório. No ano passado eu não vi a floração desta Laelia lobata, pois estava viajando na ocasião, mas este ano, embora a floração tenha sido fraca, a planta bifurcou, de maneira que a floração ocorreu através de dois pseudobulbos, mas em semanas diferentes. Autofecundei duas flores da primeira floração e vou autofecundar as duas que vocês vêem aqui nestas fotos. Assim que as cápsulas incharem bem, escolherei qual irá ficar na planta e cotarei as demais para não estressá-la. Se for possível manterei duas cápsulas, uma em cada pseudobulbo, para enviá-las a dois diferentes laboratórios. Pretendo doar seedlings já grandinhos desse clone de Laelia lobata aos sócios da OrquidaRio, uma vez que esta é uma orquídea intimamente relacionada com a nossa associação. A primeira e por muito tempo a única foto da Laelia lobata semi-alba 'Maria Cristina' foi a que figurou na capa de um exemplar da nossa revista, a Orquidário, quando foi tirada há vinte anos atrás na mostra de orquídeas que aconteceu em uma de nossas reuniões. Segue a foto abaixo à esquerda. À direita está a foto da Laelia lobata semi-alba 'Maria Cristina' que figura no site http://mirandaorchids.com. Vocês podem ver que é a mesma foto que foi publicada na capa da revista, só que agora na forma integral, o que mostra a falta de documentação de imagem desse clone. Até

agora...

 

 

 

Em 11 de novembro de 2008, exatamente há 3 anos atrás, o Carlos Gomes publicou na lista Mundo Orquidófilo 3 fotos mostrando o excelente cultivo e floração de um dos dois exemplares da sua coleção. Clonar essa Laelia seria uma maneira de popularizá-la com rapidez, mas mesmo eu que sou um entusiasta da clonagem, concordo que essa semi-alba ainda não está pronta para ser eternizada numa clonagem. Ao se abrir, a flor desse exemplar semi-albo apresenta pétalas planas e excelente armação. Alguns dias depois, a flor começa a se enrolar e as pétalas dobram-se um pouco longitudinalmente para trás, prejudicando bastante a aparência da flor. Uma vez corrigido esse e alguns outros pequenos problemas em um dos seus descendentes, ele estará pronto para ser meristemado. Fiz questão após tantos anos de ostracismo, em levar um exemplar florido e apresentá-lo na nossa sociedade, colocando-o sobre a mesma mesa onde a planta original foi exposta e fotografada pela primeira vez há tantos anos atrás. Carlos.

 

Carlos Keller
Rio de Janeiro, RJ
carlosgkeller@terra.com.br

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