sábado, 12 de novembro de 2011

SLC. HAZEL BOYD



---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Carlos Keller <carlosgkeller@terra.com.br>
Data: 8 de setembro de 2010 22:06
Assunto: [Mundo Orquidófilo] SLC. HAZEL BOYD
Para: MUNDO ORQUIDÓFILO <orquideas@yahoogrupos.com.br>


Slc. Hazel Boyd 'Sunset' AM/AOS

Todo hibridador sonha em criar um híbrido tão espetacular que o eleve às alturas de uma celebridade. Poucos conseguiram esse feito, mas Frank Fordyce, já uma celebridade nacional no meio orquidófilo, com o surgimento deste híbrido conquistou fama mundial. A Slc. Hazel Boyd é o híbrido que obteve o maior número de clones premiados em toda história da orquidofilia. Este é um cruzamento entre Slc. California Apricot e Slc. Jewel Box e o híbrido foi registrado em 1975 pelo orquidário Rod McLellan & Co, da Flórida, o qual foi o seu produtor e distribuidor. Era lá que trabalhava o Sr. Fordyce, como chefe do departamento de hibridação, sendo ele já famoso pelos seus híbridos envolvendo Sophronitis. Criar um híbrido de qualidade, não é só sair por aí polinizando orquídeas que florescem na mesma época. Não se deve ter a visão simplista de que se cruzarmos uma flor amarela com uma vermelha teremos filhos cor de laranja. Não é isso. Um hibridador não pode olhar uma flor como a olha um cultivador amador, por exemplo, que vê ela e apenas ela. O hibridador deve ter uma observação crítica que vai muito além da mera visão da flor. Ele tem que ter em mente toda a sua genealogia, para saber o que existe dentro dessa flor e que resultado isso pode trazer à sua prole. Tem também que levar em conta a parte vegetativa, se é robusta e confiável para o cultivo em massa; tem que examinar o comprimento das hastes para saber se as flores ficarão eretas; tem que checar a época de floração, o perfume e muitas outras coisas que só mesmo os gênios da criação podem memorizar. Muitos desses hibridadores profissionais se reúnem para trocar informações, pois sabem que o esforço em grupo sempre dá melhores resultados que o individual. Foi isso que fez Frank Fordyce, quando em 25 de abril de 1970 se encontrou com o jovem companheiro de trabalho John Germaske e com ele começou a percorrer os longos corredores das estufas da empresa. Foi alertado pelo amigo do potencial do clone 'Beverly' da Slc. Jewel Box (C. aurantiaca x Slc. Anzac), o qual fora recém premiado com um AM/AOS. O Sr. Germaske, um conhecido hibridador de Miami, Flórida, também fazia cruzamentos dentro de espécies puras e é dele o cruzamento que originou a Cattleya trianaei alba 'Aranka Germaske' FCC/AOS, possuindo ele até hoje a planta original que foi meristemada. A Slc. Jewel Box 'Beverly' diferia do conhecido clone 'Scheherazade' AM/AOS por ser mais compacta, possuir um crescimento lento, mas por outro lado mais vigoroso e por ter flores com mais substância e maior tamanho. A ascendência de Sophronitis coccinea e Cattleya aurantiaca garantiria uma transferência de genes da cor vermelha para a sua prole, desde que a outra matriz envolvida não fosse demasiadamente complexa a ponto de perder a referência de cor das principais espécies que a compõe. Escolheram então para fazer o cruzamento outro híbrido também da empresa, pouco complexo e de cor laranja, o Slc. California Apricot (Lc. Pacific Sun x Sophronitis coccinea) e o clone selecionado foi o ' Orange Circle' HCC/AOS, devido a sua ótima forma redonda, alaranjado brilhante e longa duração das flores. A polinização foi feita ali mesmo, usando-se a Slc. California Apricot como planta mãe (aquela que carrega a cápsula). O cruzamento aparentava ser muito promissor e a antecipação do que dali sairia ficava evidente na ansiedade dos dois hibridadores. Em 14 de dezembro de 1970 a cápsula foi colhida, por algum motivo desconhecido prematuramente, estando ainda verde e com isso apenas 10% do total das sementes germinaram. Cerca de 600 seedlings cresceram e alguns quando quase adultos, foram oferecidos para venda no catálogo de 1975 da Rod McLellan & Co, sob o código "Cross #9022". O crescimento desses seedlings foi vigoroso e uniforme, gerando plantas compactas e de tamanho médio. Quando os seedlings que não foram para venda começaram a florir nas estufas, tanto o Sr. Fordyce quanto o Sr. Germaske ficaram extremamente satisfeitos com o resultado. O primeiro exemplar a abrir as suas flores recebeu o nome clonal de 'Red Celeste', devido elas serem totalmente vermelhas e o híbrido provou ser muito superior aos pais, tanto na forma quanto na armação. Esse clone vermelho 'Red Celeste' posteriormente recebeu um AM/AOS de 84 pontos. Em 04 de março de 1975 foi aceito o registro do híbrido no RHS (Royal Horticultural Society) e o nome escolhido para ele foi em homenagem a uma cultivadora amadora da Califórnia, amiga do Sr. Germaske, Sra. Hazel Boyd. Daí para frente o resto é história... Ao longo dos anos, com a floração de quase todos os seedlings produzidos, foi possível traçar-se uma estimativa de coloração do resultado do cruzamento, tendo sido obtidas cerca de 60% de flores vermelhas, 35% laranja flameadas e 5% amarelas. Embora a coloração do labelo de quase todos os exemplares tenha saído vermelho com amarelo, alguns poucos saíram concolores. As hastes florais que normalmente saem curtas em filhos de Sophronitis, nesse caso saíram com um bom comprimento, devido aos genes da Cattleya aurantiaca que possui hastes longas. A floração pode se dar até duas vezes ao ano, carregando cerca de três a quatro flores por haste. Uma das melhores características da Slc. Hazel Boyd é a longa duração das suas flores, as quais permanecem ainda em bom estado e firmes, mesmo após já terem a sua coloração esmaecida por estarem a mais de um mês abertas. Apesar de todo o sucesso obtido, este híbrido tem como ponto negativo o fato de ser quase estéril (talvez seja um triplóide) e como resultado, praticamente toda a sua produção se baseia nos mericlones fetos à partir dos exemplares obtidos no cruzamento original. À medida que esses mericlones foram sendo premiados um a um causando um grande alvoroço com relação ao híbrido, várias tentativas de se refazer o cruzamento foram feitas, mas o resultado sempre foi bastante inferior ao original. Isso é devido ao fato de no registro do RHS não entrar o nome do clone usado na hibridação, aparecendo ali apenas o nome dos híbridos. Com isso, os novos hibridadores por falta de informação usam clones diferentes dos originais, os quais foram pouco difundidos ou são de propriedade exclusiva do orquidário Rod McLellan. O clone 'Scheherazade' da Slc. Jewel Box é o mais usado devido a sua grande distribuição no mercado e poucos clones acessíveis da Slc. California Apricot são tão redondos quanto o 'Orange Circle'. Por conta disso, os meristemas originais antigos desse híbrido são muito superiores aos novos que estão aparecendo agora no mercado.

 


Em matéria de cultivo, esta é uma orquídea que gosta de frio, ou pelo menos de noites frias. Um local que recebe uma brisa úmida que lembra as nevoentas cristas de montanha da Serra do Mar, onde vegetam felizes as Sophronitis coccinea, seria um bom clima para esta planta, desde que com a devida proteção, afinal esta não é uma espécie pura adaptada às intempéries. Orquidários que cultivam bem as Sophronitis em geral, a Laelia pumila e a Laelia praestans, por exemplo, com certeza terão boas florações da Slc. Hazel Boyd. A sua parte vegetativa costuma ficar com folhas onduladas, coisa que acontece com a maioria dos híbridos de Sophronitis. Essa ondulação quando em ambientes quentes, tende a se acentuar, dando à planta uma falsa aparência de doente ou desidratada. A largura e substância das folhas também diminui. A cor das folhas quando fora do clima propício, fica de um verde mesa de bilhar e não o escuro verde garrafa, que tão lindo contraste faz com o amarelo alaranjado das flores. Se a planta estiver sendo cultivada em uma área de clima favorável, as folhas tornam-se escuras, planas e largas, com substância grossa. Os mais belos exemplares que vi deste híbrido aqui no Rio de Janeiro estavam sendo cultivados em Petrópolis e Teresópolis, na nossa região serrana. Acredito que cidades como São Paulo e Curitiba lhe propiciariam um bom ambiente. Aqui em baixo, na cidade do Rio de Janeiro propriamente dita onde cultivo as minhas orquídeas, não é fácil obter uma boa floração e embora a minha floração tenha sido abundante este ano, a forma das flores poderia ter sido melhor. As folhas estão com a indesejável ondulação à que me referi acima. O que faço é ficar mudando o vaso de lugar, até achar dentro do orquidário um cantinho fresco onde percebo que a planta se adaptou melhor. No meu caso esse cantinho é uma lateral do orquidário que dá para uma pequena mata úmida de onde vem uma aragem fresca e constante. Retirei a tela dessa lateral, para obter uma maior vantagem da umidade circulante. A adubação que uso é a química, Peters 20-20-20 semanalmente durante o ano e cerca de 3 meses antes da floração, quando possível, eu mudo para o Peters com formulação 10-30-20. Ambos são acrescidos de micronutrientes. Embora eu reconheça a boa eficácia da adubação orgânica, não a uso devido ao fato de que o meu substrato, que é o sphagnum, se estragar com muita rapidez quando entra em contato com matéria orgânica em decomposição. Com adubação apenas química, o sphagnum pode durar até quatro a cinco anos. É claro que antes disso a planta já saiu para fora do vaso. Com relação à coloração variável das flores, pude notar que as que se abrem recebendo mais luz ficam mais claras e com um menor flameado, enquanto que as que se abrem em locais menos iluminados, ficam mais alaranjadas e com um flameado mais acentuado. As fotos abaixo mostram os dois extremos da minha floração. Tive essa variação de cor de flor na mesma planta, porque este ano a floração foi boa, formando um círculo ao redor de toda a touceira. O lado da touceira que recebeu mais luz, apresentou as flores claras, enquanto que o outro lado apresentou flores mais flameadas e escuras. O local onde deixo as minhas orquídeas em botão recebe luz apenas lateralmente. Aconselho a quem cultiva orquídeas em regiões de altitude do país, a ter na coleção alguns clones de Slc. Hazel Boyd, pois verão que é uma orquídea extremamente grata nesse clima. Não se esqueçam, no entanto, de procurar exemplares em orquidários que possuam coleções antigas, pois ali estarão os melhores clones. Carlos.

 

Carlos Keller
Rio de Janeiro, RJ
carlosgkeller@terra.com.br


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